Domingo, 11 de fevereiro de 2024

Por: TOHRU VALADARES

         Caríssimo ledor, alguns estudiosos entendem o Carnaval como uma festa pagã, pois sua origem e motivação, faz entender como tal, o período posterior ao carnaval está ligado diretamente com o jejum quaresmal. Isso não quer dizer que sua intenção tenha tido influencias e até mesmo mudança de foco com o passar da história, as origens históricas que nos mostram a influência que o Carnaval sofreu de outras festas que existiam na Antiguidade.

         Na Babilônia, haviam festas que originaram o que conhecemos hoje como Carnaval. As Sacéias eram uma celebração em que um prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma que o rei e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.

         Outro rito era realizado pelo rei no período próximo ao equinócio da primavera, um momento de comemoração do ano novo na Mesopotâmia. O ritual ocorria no templo de Marduk (um dos primeiros deuses mesopotâmicos), onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono.

         O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao Carnaval era o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao seu deus. Possivelmente a subversão de papéis sociais no Carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e outras práticas semelhantes, é associável a essa tradição mesopotâmica.

         A associação entre o Carnaval e as orgias pode ainda relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Seriam eles dedicados ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcados pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne. Havia ainda, em Roma, a Saturnália e a Lupercália.

         A primeira ocorria no solstício de inverno, em dezembro, e a segunda, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas duravam dias, com comidas, bebidas e danças. Os papéis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.

         Entretanto, alguns estudiosos creem que a festa do carnaval começou na Grécia, aproximadamente em 600 a.C. Além dessas teorias, também há suspeitas em que o seu nascimento pode ter ocorrido na Saturnália, em Roma, quando as pessoas utilizavam máscaras, faziam brincadeiras, comiam e bebiam.

         Porém, com a popularização do cristianismo, a festa recebeu outro significado. Começou, então, a tradição de abdicar do alimento da carne, 40 dias antecedentes da Páscoa, intervalo que ficou conhecido como Quaresma, um tempo de reflexão e epifania (Epifania é um sentimento que expressa uma súbita sensação de entendimento ou compreensão da essência de algo) sobre atuais atitudes e o sofrimento pelo qual Jesus passou.

         Cristianismo e Carnaval eram, naturalmente, celebrações pagãs e eram extremamente populares. Com o fortalecimento de seu poder, a Igreja não via com bons olhos essas celebrações nas quais as pessoas entregavam-se aos prazeres mundanos. Nessa concepção do cristianismo, havia a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter os papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o demônio.

         A Igreja Católica renovada, após os concílios, procurou ressignificá-las dando-lhe um senso mais cristão. Durante a Alta Idade Média, foi criada a Quaresma, período de 40 dias antes da Páscoa caracterizado pelo jejum. Tempos depois, as festividades realizadas pelo povo foram concentradas nesse período e nomeadas carnis levale, que significa “retirar a carne”

         A Igreja pretendia, dessa forma, manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do período da severidade religiosa. Nesse momento, o Carnaval estendia-se durante várias semanas, entre o Natal e a Páscoa.

         No século XVII, os portugueses trouxeram para o Brasil uma festa popular chamada Entrudo, Tal festa era basicamente formada por brincadeiras, como sujar e molhar as pessoas com água, limão, farinha, terra, vinhos, sucos e coisas em estado de putrefação. A partir de 1870, o Entrudo vagarosamente deixou de ser festejado dando lugar ao carnaval.

         Eram bailes e desfiles glamorosos, cuja inspiração era buscada na Europa. Tal substituição priorizou a classe bem sucedida da população, pois os menos favorecidos que compunham a maior parte dos festejantes do Entrudo não tinham condições de pagar os altos valores cobrados nos clubes e bailes.

         As pessoas de baixa renda, a classe baixa, buscaram realizar suas festividades nas vias públicas com a construção de blocos, grupos de maracatus, frevos, até que, em 1928, surgiu a primeira escola de samba: Deixa Falar, que posteriormente recebeu o nome de Estácio de Sá.

         A partir desse período, o carnaval de rua foi priorizado nas grandes cidades brasileiras. Em 1935, as prefeituras passaram a contribuir com a organização do carnaval, oferecendo ajuda de custo para a construção de diferentes desfiles e carros alegóricos.

         Seja qual for sua motivação, lembre-se que toda ação traz consequências, você não é todo mundo e nem necessita ser quem não é, portanto, juízo e que seu carnaval seja uma manifestação da alegria e agradecimento pelo dom da vida, está ai um sentido focado, daquilo que pode ser considerado a definição de um bom carnaval. Paz&Bem.


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