Domingo, 03 de março de 2024

Por: TOHRU VALADARES

          Caríssimo ledor(a), na quarta-feira antes do primeiro domingo da Quaresma os fiéis, recebendo as cinzas, entram no tempo destinado à purificação da alma. Com este rito penitencial, surgido da tradição bíblica e conservado na tradição litúrgica até os nossos dias, é indicada a condição do homem pecador, que exteriormente confessa a sua culpa diante de Deus e exprime assim a vontade de conversão interior, na esperança de que o Senhor seja misericordioso para com ele.

          Por meio deste mesmo sinal inicia o caminho de conversão, que alcançará a sua meta na celebração do sacramento da Penitência nos dias antes da Páscoa. A bênção e imposição das cinzas são realizadas durante a missa ou também fora da missa. Nesse caso, permite-se a liturgia da Palavra, concluída com a oração dos fiéis.

          O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo Testamento. Na tradição bíblica, como na maioria das religiões antigas, as cinzas simbolizam a insignificância humana, sua fugacidade e precariedade. Assim, no livro de Gênesis: »estou corajoso para falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza » (Gn 18, 27). As cinzas também simbolizavam dor, morte e penitência. Por exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas quando soube do decreto do Rei Asuer I da Pérsia que condenou à morte todos os judeus de seu império. (Est 4,1). Jó mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6).

          Daniel, ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: “Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza” (Dn 9,3). No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e se sentou sobre cinzas (Jn 3,5-6).

          Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram a prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos compreendiam) de arrependimento. Mas também Jesus fez referência ao uso das cinzas. A respeito daqueles povos que se recusavam a se arrepender de seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Nosso Senhor proferiu: “Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21).

          A Igreja, desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo sentido penitencial. Em seu livro “De Poenitentia” , Tertuliano (160-220 d.C), prescreveu que um penitente deveria “viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e coberto de cinzas“.

          O famoso historiador dos primeiros anos da igreja, Eusébio (260-340 d.C), relata em seu livro “A História da Igreja”, como um apóstata de nome Natalis se apresentou vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa Ceferino, para suplicar-lhe perdão. Sabe-se que num determinado momento existiu uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que deviam fazer penitência pública.

          As cinzas eram colocadas quando o penitente saía do Confessionário. Já no período medieval, por volta do século VIII, aquelas pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia o moribundo com água benta dizendo-lhe: “Recorda-te que és pó e em pó te converterás “.

          Depois de aspergir o moribundo com a água benta, o sacerdote perguntava: “Estás de acordo com o tecido de saco e as cinzas como testemunho de tua penitência diante do Senhor no dia do Juízo?” O moribundo então respondia: “Sim, estou de acordo”. Se podem apreciar em todos esses exemplos que o simbolismo do tecido de saco e das cinzas serviam para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem como a intenção de se fazer penitência pelos pecados cometidos contra o Senhor e a Sua igreja.

          Foi a partir de todas essas experiências que a celebração da Quarta-Feira de Cinza foi surgindo na Igreja. Era um gesto aplicado aos penitentes, que marcavam sua entrada em um tempo de arrependimento para a reconciliação, celebrado na Quinta-feira Santa. Naquela época, o sacramento da reconciliação era celebrado apenas uma vez na vida. Considerado uma « segunda salvação » para os batizados que tenham cometido uma infração grave, foi precedida por uma penitência particularmente rigorosa, marcada pela mortificação corporal.

          A partir do século XI, o gesto da imposição das cinzas, parte de um rito menos rigoroso, foi estendido a todos os cristãos no caminho para a Páscoa. A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório sobre a piedade popular e a liturgia: “O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas.

          Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal.

          Devem ajudar aos fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”. A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência. A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).

          Para a cerimônia devem ser queimados os restos dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes recebem água benta e logo são aromatizados com incenso.

          Este ato acontece durante a Missa, depois da homilia. As cinzas são impostas na fronte, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras Bíblicas: “és pó e em pó te tornarás” ou “convertam-se e creia no Evangelho”.

          Em resposta a uma pergunta feita pela Comissão Litúrgica dos Bispos Americanos em 30 de janeiro de 1975, a Secretaria da Sagrada Congregação para os Sacramentos e para o culto divino deu a seguinte resposta: Os Ministros extraordinários (eucarísticos) não podem abençoar as Cinzas, mas podem ajudar o Celebrante na sua imposição, e até, quando não houver sacerdote e as Cinzas já estiverem abençoadas, podem impô-las por si mesmos.

          Portanto, esta resposta indica que qualquer pessoa pode ser convidada ou encarregada de impor as Cinzas, mas não as pode abençoar. E por que não? O Catecismo nos responde: “Todo batizado é chamado a abençoar, eis por que os leigos podem presidir certas bençãos. Todavia, quanto mais uma benção se referir à vida eclesial e sacramental, tanto mais sua presidência será reservada ao ministério ordenado – bispos, presbíteros ou diáconos” (CIC 1669).

          Isso significa dizer que, uma vez que a imposição das cinzas faz referência ao Sacramento da Penitência, nos convidando à conversão, as cinzas para tornar-se um sinal sacramental precisam, portanto, ser antes abençoadas por um Ministro Ordenado.

          A Quarta-feira de Cinzas não é uma ordem e, portanto, não é obrigatória. Porém, participar da missa nesse dia é recomendável, porque ele nos introduz precisamente no itinerário quaresmal rumo às celebrações do tríduo pascal. Por ser um dia penitencial, o jejum e abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos.

          Fora desses limites, é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez durante o dia. A abstinência de comer carne é obrigatória a partir dos 14 anos. Todas as sextas-feiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. As outras Sextas-Feiras do ano também, embora hoje em dia poucos conheçam este preceito. Paz&Bem. (Fonte: https://santuario.cancaonova.com/artigos-religiosos/10-coisas-que-todo-catolico-deve-saber-sobre-quarta-feira-de-cinzas/).


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